Racismo, segundo o dicionário é:
“1- O conjunto de crenças e teorias que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias. 2- doutrina ou sistema político fundado sobre o direito de uma raça (considerado pura e superior) de dominar outras.”
Alguns autores psicólogos, sociólogos e antropólogos trazem a questão do racismo como:
“ideologia de abrangência ampla, complexa, sistêmica, violenta, que penetra e participa da cultura política, da economia, da ética… enfim da vida subjetiva, vincular social e institucional das pessoas. Estratégia de dominação que estrutura a nação e cada um de nós e é pautada na presunção de que existem raças inferiores e superiores.”
Segundo dados do IBGE, censo de 2010, mais de 54% da população brasileira é negra, no entanto mesmo ocupando a maior parte da população, verificamos que são os brancos que ocupam os lugares de hierarquia nas grandes empresas, novelas, escolas particulares, faculdades e afins. O mesmo censo nos mostra também que, enquanto a renda média da família branca é de R$ 3000,00 reais mensais, a renda da família negra cai para R$ 1800,00.
Vemos também, segundo o mapa da violência 2016, que os dentre os jovens que são as maiores vítimas de violência e assassinatos, 95% deles são negros. Quanto à violência contra a mulher, que de uma forma geral tem caído estatisticamente, quando se fala da violência contra mulheres brancas de fato há uma queda, enquanto que, mulheres negras tem sido maior alvo de violência no Brasil.
Diante de tantas estatísticas desfavoráveis à população negra, me inquieto e me faço repensar sobre quais são as questões que englobam tais situações, e até onde a psicologia tem responsabilidade para o que já aconteceu e de também reverter tal situação.
Segundo a Regulamentação 18/2002 , Art. 2º – Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a discriminação ou preconceito de raça ou etnia. Art. 3º – Os psicólogos, no exercício profissional, não serão coniventes e nem se omitirão perante o crime do racismo.”
Talvez você não saiba, mas em no século XX, meados de 1928, surgiu um movimento chamado Movimento Eugenista, fomentado pelas ciências da época, dentre elas a psicologia.
Esse movimento trazia questões referente a se formular, através da genética, aspectos físicos e psicológicos, para fazer com que as pessoas fossem melhoradas geneticamente: Mais inteligentes, ‘bonitas’ e afins.
Com os testes psicológicos traziam a falsa ideia que apenas pessoas brancas eram inteligentes, com maiores QI – Quociente de Inteligência, e que por isso, brancos deveriam apenas se casar com brancos. E é preciso ressaltar que naquela época os testes não eram validados e padronizados com rigor científico como é hoje e que os negros foram, por séculos impedidos de ter acesso à educação, o que por si só já caracteriza desvantagem.
A psicologia então tem papel de forte importância na luta contra o preconceito racial, até pela dívida devido a sua contribuição no processo que ainda hoje acontece no Brasil.
Atuação que pode ser levantada dentro da clínica quando se atende uma demanda de racismo que fere principalmente a individualidade e subjetividade do sujeito, visando à emancipação do mesmo; nas universidades, seja como professor e/ou colega de classe, colaborando e fomentando tal discurso para conscientização de colegas de profissão e outros da sociedade civil; Nas áreas de pesquisas, a fim de compreender as individualidades da construção de identidade e subjetividade do negro, dentro das perspectivas que se encontram desde a escravidão, com suas particularidades como a questão da mulher negra e construção da família, que tem características muito próprias que muitas vezes é negado e/ou desconhecido pelo profissional da área da saúde/psicologia, colocando-os sob os aspectos da literatura branca.
É importante ressaltar que tal assunto que traz muito sofrimento psíquico e quebra da subjetividade, chegando inclusive ao suicídio, que segundo o IBGE tem crescido consideravelmente em relação ao suicídio de pessoas brancas. O que está relacionado à lógica do preconceito e da discriminação tanto lhes fere.
E é importante que, como profissionais da área de psicologia, possamos trazer mais discussões e pesquisas acerca do tema, visando identificar os impactos e consequências para além do que já vemos nas questões de representatividade social, onde muitas vezes, por ter um mercado muito voltado para o branco, o negro fica privado de poder, naturalmente, ser diferente daquilo que a sociedade estipula como padrão, bonito e aceitável.