“Meus cortes, minhas cicatrizes, minhas escolhas, as vezes eu não sei por que faço isso, só sei que foi assim que eu aprendi a lidar com a minha dor, sozinha…” (Anônimo – Fonte: Braga Cavalcante, João Paulo- Redes de Depressão e Cutting no cenário jovem alternativo: Uma contribuição Sociológica acerca da automutilação).
É assim que se sentem muitas das pessoas que acabam mutilando-se. Essa dor com qual não conseguem lidar, expressar nem ao menos sentir, é algo que dilacera a alma, aniquilando seu eu interior.
Muitas pessoas acabam por banalizar tal ação, jugando -os, dizendo que é “besteira”, “para chamar atenção” e etc. No entanto, precisamos falar deste comportamento que vem tomando proporções cada vez maiores dentre os jovens.
Imaginem vocês, com uma dor agonizante interior, o que chamaremos de sofrimento psíquico, cujo qual, você não tem a mínima noção do que é ou do porquê estar se sentindo assim, algo que é insuportável, que parece que vai aniquilá-los por dentro. Desta forma a dor física pode parecer algo muito mais suportável, pois além de visível há um sentido em estar sendo sentida.
Pois bem, dentro da psicologia, o autor Winnicott fala um pouco sobre o desenvolvimento emocional e como ele se dá desde que o indivíduo está dentro da barriga de sua genitora. Este autor traz algumas reflexões acerca da ligação entre essa genitora e seu bebê e a forma como ela se dá. Após o nascimento deste, não apenas a genitora, mas todo o ambiente que cerca este bebê é importante e atua como facilitador para o desenvolvimento emocional desta criança. Agora vamos pensar no contexto social/econômico em que vivemos, onde tentamos fazer com que os bens materiais compensem a falta de carinho e afetividade.
No contexto em que os responsáveis por esta criança, trabalhando horas por dia, passando por estresses diários, pegando transportes coletivos e/ou trânsitos que o esgotam tanto física quanto emocionalmente, chegam em casa e além de cuidar das tarefas domésticas, há um “ser humaninho” que carece de atenção e necessita de cuidados e carinhos, no entanto, lhe damos tablets, celulares, brinquedos como forma de suprir tal ausência diária, isso quando a situação financeira possibilita tal “mimo” para o filho, e/ou quando há a presença de outro responsável (não necessariamente um pai, mas algum (a) companheiro (a), levando em consideração as famílias monoparentais femininas e as homoafetivas) que dividam e que de fato assumam as atividades domésticas com o (a) companheiro (a).
Na era da tecnologia carecemos do contato físico, da afetividade, de olharmos para dentro de nós mesmos e para que possamos entender o que está de fato acontecendo dentro de nós. Sem contar que, nunca podemos demonstrar tristeza, esta é sinal de fraqueza. Então, em nossa cultura, homens não podem chorar, mulheres devem ser fortes, pois ambos não podem demonstrar fraquezas. Sempre há alguém que sofre mais que a gente, no entanto esquecemos que não se mensura a dor, cada um a sente de maneiras muito individualizadas.
“O sofrimento psíquico deve ser endereçado ao outro, que oferece um espaço para legitimar sua dor, quando não há o outro, ela se mantém no próprio sujeito” (Macedo 2017). Quando referimos sobre este “outro”, estamos nos referindo a ligação desde recém-nascido com o ambiente, que deveria ser facilitador, mas falhou nesse processo, por várias questões que podem ser enumeradas devido ao momento social/econômico em que vivemos.
Desta forma, o comportamento de cortar-se pode estar atrelado a essa falta de contato com o outro que quase sempre e/ou sempre lhe faltou, essa sensação de não ser compreendido e estar sozinho apenas com sua dor, pode ser um dos fatores que levem, principalmente, os jovens a se mutilarem e direcionarem tal agressividade para si, como forma de expressão de sua tristeza, raiva e/ou agressividade, na tentativa de afetar inclusive esse outro.
Se este for seu caso, entre em contato com um profissional que poderá te ajudar. Se você conhece pessoas que tenham tal atitude não a julguem, e procurem ajudá-la a procurar um profissional da área.
Abaixo os links de pesquisas que foram realizadas para elaboração do post:
http://www.aps.pt/viii_congresso/VIII_ACTAS/VIII_COM0743.pdf
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/psicogente/article/viewFile/2556/2516