Por desenvolverem um trabalho intelectual, Psicólogos pagam ao governo impostos mais altos que outros tipos de profissionais (implica em mais ou menos 27,5%). Imagino que isto esteja relacionado ao sistema econômico que vivemos em que atividades do intelecto são mais remuneradas que as que prestam serviços materiais.
Por isso, o nosso tempo dedicado ao trabalho também deveria ser mensurado de forma diferente: a força do pensamento não para, acontece por vezes sem o nosso controle. Quando vemos, já estamos trabalhando mesmo que assistindo TV ou no trânsito de São Paulo.
Além das horas dentro do consultório, dedicamos horas de estudo, supervisão, Psicoterapia e os insights que temos até vendo nossos filhos brincarem. Poucos são os profissionais que levam tudo isso em consideração.
Trabalhamos horas à fio, e não por nos dedicarmos a “resolver problemas” ou “nos doarmos”, mas a quantidade de informações que recebemos por minuto é alta.
Enquanto o paciente se dedica a transformar em palavras os sentimentos, nos dedicamos em absorver, levar as informações ao nível da teoria, imputar dentro de um contexto filosófico, tirar desse contexto, devolver para o paciente em forma de questionamento e ainda se dar conta da transferência e contratransferência que acontece ali. Muita coisa acontece durante a sessão…
Depois que encerramos os atendimentos, nos dedicamos a preencher prontuários, lidar com as questões estruturais da clínica (o ar condicionado que quebrou, o pote de bolacha que está vazio, as compras que devem ser feitas) e quando chega um feriado, utilizamos para colocar em dia a leitura atrasada – viu o livro novo que lançou?
Não, muitas vezes não vemos os livros que lançaram, assim como deixamos o celular ligado nas férias para caso haja uma emergência com algum paciente mais comprometido.
– Mas ele nunca liga – você vai me responder.
Isso pouco importa. O fato de estarmos sempre alerta, sempre pensando, sempre atrasados, causa um desgaste mental gigante. O corpo descansa por estar sentado boa parte do dia, mas a mente está sempre ligada.
Precisamos nos dar conta que nosso trabalho exige grande esforço, é minucioso e, mais do que isso, precisamos estar saudáveis para concretizá-lo. Tirar férias de verdade, sem deixar as preocupações nos atingirem, quando estiver passeando com seu filho durante o fim de semana, realmente estar lá, e não pensando em como ele se comporta em certas situações, compreender que também temos limites e que nada compra a nossa saúde.
Quantas vezes você já disse coisas desse tipo para seus pacientes? E para você? Quantas?