Eu era uma Psicóloga recém formada, sem dinheiro, mas cheia de amor pela profissão quando comecei a participar de grupos de estudos de casos em Psicanálise.
Lembro que a dúvida sobre o manejo do pagamento em análise era abordado, discutido, pensado, mas a conclusão do assunto não acontecia (existe conclusão quando estamos no meio Psicanalítico?). Sempre surgem dúvidas novas, condições novas, transferências novas (sempre vão existir), para que possamos pensar o pagamento em análise de formas variadas. Mas frequentemente eu escutava profissionais mais experientes dizendo que a Psicanálise não deveria estar em um lugar lucrativo, que a tratativa sobre o pagamento com o paciente entraria no lugar de sintoma, em um lugar reflexivo: que relação aquele indivíduo mantinha com o dinheiro?
E as minhas contas chegando por debaixo da minha porta todos os meses…
Foi aí que eu percebi que a clínica acontece quando o meu eu deixa de ser a única coisa que importa para dar lugar à necessidade do outro, do paciente, naquele setting, durante o tempo da Análise. Percebi que só existe análise quando eu empresto o meu eu para o outro que, na transferência, consegue encontrar (-se) outros caminhos. Percebi que quando o dinheiro sai ou não da mão do paciente ele só passa a ser meu quando eu saio do setting analítico. Ali dentro ele ainda é objeto do sintoma, sintomático, analisável e analítico.