Terapias psicodélicas: seria a descoberta da cura através da expansão da consciência?

14/03/2018 | Psicoterapia

O sofrimento psíquico traz angústia, tristeza, aflição ou desespero em diferentes níveis para o indivíduo quando ele vive uma experiência negativa. O lidar com aquela determinada situação muitas vezes exige um esforço que não era esperado nem mensurado. O uso de medicação prescrita por um psiquiatra muitas vezes auxilia no processo terapêutico para ajudar o paciente a se compreender melhor e rever a situação sob um novo olhar.

O termo “psicodélico” foi criado pelo psiquiatra britânico Humphry Osmond nos anos 50, em carta ao escritor e amigo Aldous Huxley. Ele uniu dois termos de origem  grega: psykhé, que significa “mente” ao sufixo delos, que significa “manifestar” construindo o conceito de “que manifesta a mente”. Foi popularizado na contracultura da década de 60 para designar as drogas alucinógenas como o LSD (ácido lisérgico), psilocibina, mescalina, DMT (dimetiltriptamina), entre outros.

A proposta defendida atualmente por estudos e representantes da psiquiatria, neurociência e psicologia internacional é de que a terapia psicodélica é a psicoterapia com o uso de substâncias psicoativas (LSD, DMT, mescalina, ayahuasca, psilocibina, MDMA).

Com a administração em sessão individual de uma dose baixa que é controlada e monitorada, entende-se que o processo terapêutico é enriquecido com a experiência de alteração do estado de consciência, o que ofereceria ao psiquiatra e ao próprio paciente um acesso à mente que normalmente não é alcançado. É quando o cérebro opera de forma independente, fazendo emergir imagens e lembranças das profundezas da mente, permitindo que o terapeuta observe coisas que antes ficariam ocultas.

Na última década, líderes do segmento de psiquiatria e psicologia do diversos países promovem e  acompanham a retomada de novas pesquisas preliminares e ainda não-conclusivas sobre a efetividade da terapia psicodélica em pacientes com doenças terminais ou com TEPT (Transtorno de estresse pós-traumático).

A partir de estudos realizados com MDMA em pacientes com TEPT nos EUA, foi observado que, sob efeito da droga, é possível reviver traumas sem sentir medo. Dessa forma, trazendo uma nova percepção sobre o ocorrido.

  

No Brasil, uma pesquisa divulgada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostrou que em 2013 aproximadamente 90% dos moradores das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro relataram já ter vivenciado ao menos uma situação de violência (assalto, sequestro, estupro, tiroteio etc). Desses, 10% desenvolveram sintomas de TEPT.

Quatro pacientes brasileiros diagnosticados com TEPT foram selecionados para participar de um grupo de pesquisa internacional sobre o uso terapêutico de MDMA promovido pela ONG americana MAPS (Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies). A droga permite que o paciente consiga ressignificar o trauma, promovendo assim uma libertação daquele estado de sofrimento.

Conforme resultados que foram publicados em 2011 pela MAPS, 83% dos portadores de TEPT severo não apresentavam mais os sintomas do transtorno após o tratamento com MDMA.

O interesse científico na área não pára de crescer e o preconceito ainda existe. Diversos neurocientistas e psiquiatras brasileiros seguem realizando estudos sobre a terapia psicodélica.

Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), por exemplo, um estudo sobre a ayahuasca (bebida produzida com base em plantas e cipós) para o tratamento de depressão está em andamento.

A terapia psicodélica não é uma prática regulamentada em nenhum país, mas fica a dúvida: seria ela efetiva?

Fernanda Brito

Fernanda Brito

Idealizadora e supervisora clínica da Desenvolviver, com especialização em Psicanálise Clínica e forte experiência em psicologia escolar e RH. Também promove palestras em empresas e eventos pelo Brasil, falando sobre temas como ansiedade, depressão, conflitos familiares, estresse pós-traumático, bullying, entre outros.

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