Ele surgiu na minha vida de uma maneira tão repentina, mas especial. Não duvidei daquele sentimento, parecia ser tudo tão verdadeiro, não podia negar que era amor.
Nos conhecemos em um carnaval. Estávamos na mesma turma de amigos, embora não nos conhecêssemos ainda. Um amigo em comum fez questão de nos apresentar, ali eu já sabia que seríamos um par, não sei por que, apenas senti.
Trocamos telefones, saímos e ali começou um romance que eu jurava ser pra vida toda!
Eu sempre fui de festas, sempre tive muitos amigos. Era uma garota que vivia rodeada de pessoas e isso me fazia tão bem, mas ele não curtia muito essa minha desinibição. Aos poucos diminui o meu ciclo, afinal ele era o meu namorado e precisava da minha atenção.
Não, eu não podia acreditar que aquele relacionamento era abusivo.
Quando íamos sair, ele não gostava muito das minhas roupas, que em sua maioria eram curtas, eu as evitava e pouco a pouco fui me adaptando aos tipos de roupas que ele preferia que eu usasse. Não queria magoar o meu amor.
Não, eu não podia acreditar que aquele relacionamento era abusivo.
Trabalhava em um restaurante, recebia muitos olhares. Inclusive ele já havia presenciado alguns em uma das vezes que esteve por lá. Me convenceu que aquele não era ambiente pra mim. Disse que o que ele ganhava daria para bancar meus gastos. Eu compreendi os seus motivos, ele só queria o meu bem.
Não, eu não podia acreditar que aquele relacionamento era abusivo.
Minhas amigas, as poucas que eu ainda tinha, iam à minha casa sempre que podiam, mas depois que resolvi morar com ele as visitas diminuíram. Elas achavam que ele não gostava da presença delas, mas pra mim estavam exagerando. Ele me amava e dizia que queria me colocar numa redoma pra ninguém me tocar, só ele. Eu entendia, porque eu também o amava tanto que transbordava.
Não, eu não podia acreditar que aquele relacionamento era abusivo.
Com o passar do tempo, elas deixaram de ir. Diziam que eu havia mudado muito, estava mais quieta e que aquele relacionamento não estava me fazendo bem. Eu desabafei com ele, meu amor me disse que elas tinham inveja da nossa relação, porque erámos um casal que se amava muito.
Não, eu não podia acreditar que aquele relacionamento era abusivo.
Deixei de ir à padaria, ele ia por mim. Não queria que ninguém me olhasse.
Não, eu não podia acreditar que aquele relacionamento era abusivo.
Certo dia precisei ir à farmácia, ele não estava em casa. Quando chegou e soube, discutimos. Ele ficou muito bravo porque o desobedeci.
Não, eu não podia acreditar que aquele relacionamento era abusivo.
Não sabia o que estava acontecendo, mas de repente eu passei a senti um enorme vazio, mas como? Aquele amor era imenso.
Não, eu não podia acreditar que aquele relacionamento era abusivo.
A vida, que se apressava em passar, foi deixando alguns rastros… Via-me, depois de tanto tempo naquela relação, infeliz. Um lado meu gritava por liberdade, não sei como isso aconteceu, difícil explicar. Eu me sentia privada de ser quem eu era. É como se a minha essência estivesse perdida, bloqueada por alguém que tanto dizia me amar. Sentia falta dos meus amigos.
Era como se aquele amor que ele dizia sentir, não fosse mais o suficiente pra me fazer feliz. Passei a me questionar se realmente era amor, se realmente algum dia foi amor, ou se era possessão. Como amar alguém pode ser sinônimo de proibições? Eu cansei. Depois de tanto ou pouco tempo, eu já nem sei. Cansei de viver uma vida imposta por regras que me faziam infeliz.
Decidi sair, percebi que sim, aquele relacionamento era abusivo.
Hoje vivo sem ele. Foi um processo difícil, intenso e desgastante, chorei, por vezes, até cansar. Mas passou. Passa, sabia? É preciso persistência, é preciso autoconhecimento, é preciso dar o primeiro passo. Hoje estou inteira e completa.
Vai por mim, existe vida fora de um relacionamento abusivo. Não é amor se te impossibilita de viver.
Essa foi uma história fictícia, mas que acontece diariamente, na vida real, com mulheres do mundo inteiro. Se você sente estar em uma relação abusiva e tóxica é essencial que busque ajuda psicológica e possa contar com o apoio de amigos, familiares ou grupos específicos.