O dia que descobri que minha mãe era gorda

O dia que descobri que minha mãe era gorda

O dia que descobri que minha mãe era gorda…

A internet tem muitas coisas interessantes, e dia desse navegando em alguns sites me chamou a atenção um texto chamado: “Quando sua mãe diz que é gorda”, que conta a história de uma garota que desde sua infância escuta sua mãe se queixando de seu corpo e sua aparência, e como isso a fez questionar também as suas proporções físicas.

Copio aqui parte do texto para falarmos sobre:

Por Kasey Edwards

Querida mãe,

Eu tinha sete anos quando descobri que você era gorda, feia e horrorosa.

Até então, eu acreditava que você era linda – em todos os sentidos da palavra. Eu lembro de fuçar os antigos álbuns e ficar um bom tempo olhando para fotos suas no deck de um barco. Seu maiô branco, tomara que caia, parecia glamuroso como o de uma estrela de cinema. Sempre que eu tinha a chance, tirava aquele maiô maravilhoso do fundo do seu armário e ficava imaginando quando é que eu seria grande o suficiente para vesti-lo, quando é que eu seria como você.

Mas numa noite, tudo isso mudou. Estávamos todos vestidos para uma festa e você me disse: “Olha para você, tão magra e bonita. E olha para mim, gorda, feia, horrorosa.”

De primeira, não entendi o que você quis dizer.

“Você não é gorda.” – eu disse, inocente e com sinceridade – ao que você respondeu, “Sim, eu sou, querida. Sempre fui gorda, desde criança.”

Nos dias seguintes, eu tive algumas revelações doloridas, que moldaram a minha vida toda. Concluí que:

1. você deveria ser mesmo gorda, porque mães não mentem.

2. gordo é sinônimo de feio e horroroso.

3. quando eu crescesse, seria como você e, portanto, seria gorda, feia e horrorosa também.

Lendo esse texto, comecei a realizar uma análise pessoal, do meu entorno e também psicanalítica, uma vez que há claramente pela filha uma identificação com os pensamentos e sentimentos da mãe, uma vez que na história a filha, que antes achava a mãe linda, assimila um aspecto negativo do olhar da mãe sobre ela mesma e acaba por transformar em algo seu, da filha.

Quando pensamos em formação do sujeito, é importante mencionar que a personalidade das pessoas se constitui e diferencia também por uma série de, entre outros pontos, identificações, sejam elas positivas ou negativas.

No relato dessa menina, pode se ver que a criança, por meio da identificação, começa a se reconhecer como a mãe, e passa a acreditar que também será gorda, feia e horrorosa ao crescer, pois a identificação faz parte de como nós, sujeitos, nos constituímos, quando criamos passamos a assimilar os comportamentos repetitivos a nossa volta e a repeti-los e, adota-los como nossos.

Em uma determinada fase do desenvolvimento infantil, a criança passa a realizar a identificação com a mãe e, no caso mencionado, devido a mãe ter uma relação negativa com sua imagem e seu corpo, transmite tal ideia para a criança que identifica-se e começa a se ver como gorda, feia e horrorosa, inclusive levanto este sentimento para a vida adulta, um sentimento que, a priori, pertencia a sua mãe. Psicanaliticamente, há uma identificação que é contribuída também pela escolha do objeto, uma vez que o sujeito se constitui por meio do modelo de seus objetos, e neste caso o objeto seria a mãe.

Quis escrever este texto, pois me fez refletir sobre a nossa responsabilidade na formação de uma criança e, também na nossa responsabilidade de lidarmos com nossos sintomas sem deixar influir na formação do outro. Em uma sociedade que valoriza tanto o ser gordo ou ser magro, ser feio ou ser bonito, como estamos formando as gerações futuras? O quanto seu olhar sobre si, será negativo para aqueles que se identificam com você?

Mais ainda, o quanto nós mulheres reduzimos nossa feminilidade ao nosso corpo e aspecto físico, e repassamos tais para nossas crianças, gerando cada vez o “padrão” fixo de tipo físico?

Sim, deixo vocês com diversas questões a serem olhadas com mais carinho, e ainda mais uma reflexão: O que seria o corpo perfeito? E ainda, esse corpo perfeito será realmente capaz de preencher o vazio, a falta que, como sujeitos, sentimos?

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Fernanda Correa Brito Araujo

Idealizadora e supervisora clínica da Desenvolviver, a psicóloga Fernanda Correa Brito Araujo (CRP 06/102387) tem especialização em Psicanálise Clínica, Neuropsicologia e Psicologia do Trânsito, forte experiência em Perícia Forense, Psicologia Escolar e Recursos Humanos, com passagem por multinacionais como Roche, Allergan e General Eletric do Brasil.

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