Este é um tema que tem aparecido muito no consultório, referente a questões do pós-parto e como a vinda de um bebê modifica toda uma estrutura já consolidada. Um dos aspectos que o tema traz é justamente a referência de que a mulher, “projetada para ser mãe”, teoricamente, não poderia rejeitar o filho.
A primeira questão a ser pensada é: “Será que as mulheres, de fato, querem gerar um filho ou o fazem porque é isso que a sociedade de um modo geral espera dessa figura?”. E neste caso, é importante pontuar a pressão social que a mulher sofre, em ter que casar, ter filhos, ser boa mãe, boa esposa, dar conta da casa e ainda ter sucesso profissional, sem que ninguém de fato lhe pergunte quais são seus desejos e muitas vezes, esses desejos ficam mascarados pelos aspectos socioculturais.
A mulher não identificando o desejo de não querer ter filhos, acaba “convencida” de que quer e então quando a criança nasce, a romantização da maternidade acaba cedendo lugar a rejeições e comportamentos inconscientes para com o bebê.
Winnicott, autor psicanalista, discorre em sua teoria justamente sobre a relação materna e os comportamentos de rejeição. Ele diz que todo ser humano tem uma tendência inata ao amadurecimento e reflete sobre o papel do ambiente, que deve ser um ambiente facilitador, para o alcance deste amadurecimento.
Diz sobre a relação que é estabelecida entre a mãe e o bebê desde o sexto mês de gravidez em que a mulher regride quase em um distúrbio profundo, não fosse por estar grávida. E essa regressão ocorre inconsciente e naturalmente para atender as necessidades desse ser que está vindo ao mundo como uma extensão dela.
Em seu livro “As mães e seus bebês” (2002), inicia dizendo que uma mãe sabe ser mãe pelo simples fato de já ter sido cuidada por sua mãe e ter passado pela fase da dependência e tantas outras que todos nós passamos, no entanto há também algumas mães que não conseguem adaptar-se a essa realidade, não conseguindo ter sensações e sentimentos a respeito dessa nova forma de vida, ao qual a psicoterapia pode ajudar, pois nesta relação há predominância dos aspectos primitivos e simbólicos, ao qual, teorias e experiências médicas poucos se enquadram à realidade.
Muitas vezes a dificuldade da maternidade pode trazer a tona aspectos inconscientes da mulher de toda uma experiência infantil e de vida, cujo qual, foi necessário reprimir para poder sobreviver e crescer.
Portanto, muitas são as variáveis que influenciam os aspectos da maternidade, aqui falamos sobre uma pequena parte, pois é preciso repensar a função da figura paterna e como este também é importante para divisão e manutenção da relação que a criança vai desenvolvendo e também num aspecto mais concreto de ordem social, referente a “pressão” que a mulher vai sofrendo, sendo idealizada e doutrinada a ter que abdicar de seus próprios desejos em função do filho.